Cheguei a Pisac no final da manhã do meu primeiro dia no Vale Sagrado, o coração inca do Peru. O povoado, cheio de turistas, pareceu-me, à partida, mais uma vila andina transformada em feira de recuerdos. Pisac é um lugarejo sem grandes atracções (não confundir com as ruinas Incas de Pisac, lá bem acima na montanha), contudo, ao Domingo tem um grande mercado. E isso é sempre prometedor!
As bonitas bancas, com toldos de lona, estavam organizadas em corredores largos e direitos. Aqui expunham-se todas as típicas lembranças, desde a T-Shirt com as linhas de Nasca até à camisola de alpaca. Aqui ouvia-se os turistas a tentar regatear as suas compras. Outros bebiam Cusqueña, a cerveja emblemática da região, sentados nas varandas das casas convertidas em restaurantes. Todos eles fugiam do sol inclemente dessa manhã.
Todavia, Pisac não foi sempre assim. Ao contrário do que parece, não foram os turistas que fizeram a feira, mas sim a feira que trouxe os turistas. Sendo uma das principais vilas do vale, a feira de Domingo começou por ser o local de encontro entre agricultores do vale e habitantes dos povoados da montanha. Aqui vinham para comprar, vender e trocar os seus artigos.
Junto à Igreja, bem em frente às lojas e aos restaurantes, fica o outro mercado, este de frutas e legumes. Tem uma aparência espontânea e provisória. Aqui predominam o quechua (a língua dos Andes), as saias largas, os ponchos e panos de cores garridas e as faces morenas. Os produtos, apesar de conhecidos, são-nos estranhos. As batatas são pequenas e mirradas e cada maçaroca de milho parece ser de sua espécie.
Em Pisac, existem dois mundos paralelos que, apenas por vezes, se intersectam. As feiras, apesar de vizinhas, são independentes. Os clientes de uma não querem saber da outra.
Na sua banca de comida, Rosa Quinto, vê, impávida, este espectáculo. Já são tantos os Domingos que ali passou… Mas ali na sua banca os mundos tocam-se. Enquanto, a um canto, eu e o meu primo André comemos aquele que viria a ser o melhor rocoto relleno (pimento recheado) da viagem, na outra ponta da mesa, uma mulher come um caldo de carne. Não posso deixar de notar num maxilar de carneiro, ainda com dentes, que sai da tigela. Atrás, artistas vendem quadros e bijutaria de inspiração Inca. Mesmo à frente fica o mercado de frutas e verduras.
E assim, D. Rosa sentada no seu banco, vai vendo passar os dois universos paralelos que, na sua banca, de quando em quando, se intersectam quando um turista esfomeado pergunta “qué es esto?”
June 2, 2016